Últimas Postagens

Governo francês ‘descobriu’ pela imprensa que Macron teria reunião bilateral com Jair Bolsonaro

Uma das reuniões mais aguardadas da agenda do presidente Jair Bolsonaro no G20, uma reunião bilateral reservada com o presidente francês, Emmanuel Macron, aparentemente só existiu no cronograma do governo brasileiro.

Do lado da França, segundo disseram à BBC News Brasil membros da delegação de Macron, só havia a previsão de uma breve conversa informal com Bolsonaro, após o almoço dos líderes. Mas, na agenda do presidente brasileiro, havia uma bilateral formal marcada para as 14h25.

Na manhã desta sexta (28), Itamaraty e Presidência informaram que a reunião bilateral havia sido cancelada, mas não deram motivo. A BBC News conversou com dois integrantes da delegação francesa em Osaka, no Japão, que mostraram a agenda de Macron e disseram:

“Nós soubemos pela imprensa que havia reunião bilateral. Nunca houve essa previsão. O que há é uma conversa informal, após o almoço, num ambiente comum.”

A BBC News Brasil perguntou às assessorias de imprensa do Planalto e do Itamaraty se confirmavam a informação da França, mas recebeu como resposta que a questão será esclarecida durante briefing com o porta-voz da Presidência.

As reuniões bilaterais entre presidentes ocorrem em sala reservada, na presença dos dois líderes e dos membros das delegações que forem selecionados para participar. Normalmente, há espaço para que a imprensa faça fotos e imagens.

Acordo comercial

O encontro entre Bolsonaro e Macron era considerado importante porque Mercosul e União Europeia estão negociando um acordo comercial de amplo interesse do Brasil.

A França é justamente quem mais tem imposto restrições a fechar o entendimento, sob o argumento de que o governo brasileiro não tem se mostrado comprometido com o Acordo de Paris – entendimento pelo qual as nações se comprometem a assumir metas de redução de gases poluentes.

Nesta quarta (27), em conversa com jornalistas ao chegar a Osaka, Macron disse que a França se recusará a assinar um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia se o Brasil deixar o Acordo de Paris.

Mas ambientalistas têm pressionado países europeus a não assinarem o acordo, em protesto contra a pauta do governo Bolsonaro sobre meio ambiente.

“Se o Brasil deixar o acordo de Paris, no que nos diz respeito, não poderemos assinar um acordo comercial com eles”, disse Macron a repórteres no Japão.

Perguntado sobre o motivo, ele respondeu:

“Por uma simples razão. Estamos pedindo aos nossos agricultores que parem de usar pesticidas, estamos pedindo a nossas empresas que produzam menos carbono, o que tem um custo de competitividade.”

Durante a campanha, Bolsonaro disse que tiraria o Brasil do Acordo de Paris, seguindo os passos do presidente americano, Donald Trump. Mas, depois que tomou posse, ele recuou e afirmou que, “por enquanto”, o país permaneceria.

Na manhã desta quinta (28), em reunião antes da cúpula do G20, os países que integram os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) divulgaram comunicado conjunto declarando compromisso com o Acordo de Paris.

“Continuamos comprometidos com a plena implementação do Acordo de Paris, adotado sob os princípios da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)”, diz o documento, também assinado por Bolsonaro.

Mas os líderes das cinco nações também aproveitaram a oportunidade para cobrar dos países ricos compensações aos países emergentes e pobres pela preservação.

“Instamos os países desenvolvidos a fornecer apoio financeiro, tecnológico e de capacitação aos países em desenvolvimento para aprimorar sua capacidade em mitigação e adaptação. Esperamos que a Cúpula de Ação Climática da ONU, a ser realizada em setembro deste ano, produza resultados positivos.”

Críticas de Merkel

Macron foi o segundo líder europeu a adotar, nesta semana, um tom crítico em relação à política ambiental do governo Bolsonaro.

Na quarta (26), em sessão do parlamento alemão, em Berlim, a chanceler Angela Merkel disse que está “muito preocupada” com a atuação do presidente brasileiro na área de meio ambiente e afirmou que considera a situação “dramática”.

Ela havia sido questionada pela deputada do Partido Verde Anja Hajduk sobre se o governo alemão deveria continuar investindo nas negociações por um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul em um momento em que ambientalistas e defensores dos direitos humanos denunciam a deterioração de direitos relacionados a essas questões no Brasil.

“Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, respondeu Merkel.

A chanceler, no entanto, disse que é contra impedir que o acordo com o Mercosul seja firmado por causa da posição brasileira em relação ao meio ambiente.

“Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário”, ressaltou no Merkel.

“Eu vou fazer o que for possível, dentro das minhas forças, para que o que acontece no Brasil não aconteça mais, sem superestimar as possibilidades que tenho. Mas não buscar o acordo de livre-comércio, certamente, não é a resposta para essa questão”, completou a chanceler.

‘Alemanha tem muito a aprender com Brasil’

Na quinta (27), ao chegar a Osaka, Bolsonaro criticou a declaração de Merkel e disse que a Alemanha tem “muito a aprender” com o Brasil sobre meio ambiente.

O presidente também afirmou que o Brasil precisa ser respeitado e que o governo brasileiro não está no G20 para “ser advertido”.

“Nós temos exemplo a dar à Alemanha sobre meio ambiente. A indústria deles continua sendo fóssil, vem parte do carvão. E a nossa não. Eles têm muito a aprender conosco”, disse.

Visivelmente irritado durante e entrevista coletiva com jornalistas em Osaka, Bolsonaro disse que o atual governo não “aceitará” tratamento que, segundo ele, presidentes anteriores receberam de líderes de países desenvolvidos.

“O governo do Brasil que está aqui não é como os anteriores que vieram aqui para serem advertidos por outros países. A situação é de respeito com o Brasil”, disse.

“Não aceitaremos tratamento como alguns chefes de Estado anteriores receberam antes.”

Perguntado se encarou como desrespeitosa a fala de Merkel, Bolsonaro aproveitou para por em dúvida a credibilidade da imprensa em geral.

“Eu vi o que está escrito. Lamentavelmente grande parte do que a imprensa escreve não é aquilo”, disse.

“Foi a imprensa alemã que escreveu”, rebateu um jornalista.

“A gente tem que fazer a filtragem para não se deixar contaminar por parte da mídia escrita principalmente”, continuou o presidente.

A fala de Merkel foi televisionada – ocorreu dentro do parlamento, durante uma sessão pública.

Desgaste para Brasil

A política ambiental do governo Bolsonaro tem se revelado o ponto de maior desgaste para o Brasil durante o G20 deste ano.

Em entrevista à BBC News Brasil, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que o governo insistirá na mensagem de que é preciso explorar as possibilidades econômicas da Amazônia, diversificando as atividades dentro e no entorno da floresta.

Ele ainda disse que o governo brasileiro vai exigir que países ricos paguem compensações a produtores rurais brasileiros se quiserem que o Brasil conserve mais a floresta.

Mas a imagem negativa do Brasil na política ambiental já provoca problemas para o governo até em negociações comerciais. O governo francês tem sido o mais duro nas tratativas sobre o acordo de comércio entre Mercosul e União Europeia, usando como argumento o fato de que o Brasil não parece comprometido com o Acordo de Paris.

A floresta amazônica é essencial para o controle das mudanças climáticas já que ela absorve e transforma, por meio de fotossíntese, parte significativa do CO2 da atmosfera.

Mas, por trás dessa postura do governo francês, também está a preocupação de que produtos agrícolas brasileiros prejudiquem a competitividade dos produtores rurais do país.

Meio-ambiente também pode afetar negociação da OCDE

O diretor do grupo de estudos do G20 da Universidade de Toronto, John Kirton, também adverte que o Brasil terá que adotar um discurso “mais respeitável” em relação ao combate às mudanças climáticas se quiser o apoio da União Europeia para o pleito de integrar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).

Entrar para esse seleto grupo integrado pelas mais ricas economias mundiais é um dos principais projetos do governo brasileiro. Fazer parte da OCDE funciona como uma espécie de selo de boas práticas comerciais e de desenvolvimento.

Um dos primeiros ganhos da nova relação do Brasil com os Estados Unidos foi conseguir apoio formal dos americanos para entrar na OCDE. Mas o governo brasileiro ainda precisará convencer os outros membros do grupo.

“O Brasil quer entrar na OCDE e praticamente todos os países que integram o grupo, com exceção dos Estados Unidos, acreditam numa solução multilateral liderada pela ONU para controlar as mudanças climáticas”, destacou Kirton em entrevista à BBC News Brasil.

“Se o Brasil quer avançar no seu desejo de fazer parte da OCDE, vai ter que adotar uma posição mais respeitável sobre mudanças climáticas, o que Bolsonaro não tem feito até agora.”

Da Redação com informações do G1

Latest Posts

Não perca