Em audiência, o caso da conversa entre os irmãos Miranda e o presidente Jair Bolsonaro tem tudo para começar a rivalizar em breve, se já não rivaliza desde agora, com o caso da caçada policial a Lázaro Barbosa. O pano de fundo de um é a corrupção e o poder, do outro, assassinatos em série e uma fuga rocambolesca.
A caçada policial a Lázaro completou 20 dias. A caça aos implicados na compra superfaturada da vacina indiana Coaxin, denunciada pelos irmãos Miranda, mal começou. Se a CPI da Covid-19 queria um pretexto para prorrogar por mais 90 dias seu prazo de validade, o pretexto está dado.
O deputado Luis Miranda (DEM-DF) voltou, ontem, a desafiar o presidente Jair Bolsonaro com quem se reuniu em 20 de março último no Palácio da Alvorada junto com seu irmão, Luis Ricardo, servidor do Ministério da Saúde. E se Bolsonaro desmentisse tudo o que Luis Miranda contou à CPI?
“O presidente não é doido de fazer isso. Se fizer, vai tomar um susto. Não pode me chamar de mentiroso, pode falar qualquer coisa, menos que sou mentiroso”, rebateu o deputado. Que ou tem uma memória prodigiosa para relembrar o que Bolsonaro lhe disse, ou então gravou a conversa e por isso está tão seguro.
Ao jornal Folha de S. Paulo, Luis Miranda citou outras frases que diz ter ouvido do presidente:
“Isso deve ser coisa, mais uma desse cara”. Na sequência, pergunta para a gente: “Vocês têm informação se o Ricardo Barros realmente está envolvido nisso?” Aí ele fala, nomeia ele.”
Barros (PP-PR) é o líder do governo na Câmara dos Deputados. Ex-ministro da Saúde, teria participado da operação de compra da Covaxin. Segundo o deputado Luis Miranda, o encontro com Bolsonaro durou 50 minutos, e a certa altura, travou-se o seguinte diálogo entre ele e o presidente:
Como recusar uma oferta dessas? De resto, o processo suspeito de compra de outra vacina, a chinesa Convidecia, entrou também no radar da CPI. O Ministério da Saúde assinou com a empresa Belecher Farmacêutica uma carta de intenção para a compra de 60 milhões de doses da Convidecia.
Cada dose custa 17 dólares, o valor mais alto negociado pela compra de uma dose de vacina contra a Covid. O pagamento seria antecipado. Investigada pela Polícia Federal, a Belecher é apoiada pelos empresários bolsonaristas Luciano Hang e Carlos Wizard. Barros tem ligações com ela.
Hang deve milhões de reais em impostos. Quando soube que a CPI o convocaria para depor, Wizard, ex-membro do gabinete paralelo que assessorou Bolsonaro no combate à pandemia, escondeu-se no México. Fez tudo para não vir depor. Por fim, concordou em depor à CPI nesta quinta-feira.
A qualquer momento, a Polícia Federal poderá baixar no prédio do Ministério da Saúde para fazer, ali, uma devassa de grande porte. Em alguns gabinetes do ministério, a ordem é apagar todas as informações comprometedoras. Como se elas não pudessem ser resgatadas.